Artigo de opinião escrito por Catarina Kascanlian

Paraty, considerada como um dos paraísos mais lindos do mundo, é muito conhecida por ser uma cidade histórica preservada. Muitos brasileiros acreditam que os moradores da cidade tem um conhecimento muito aprofundado acerca do turismo do município, em um âmbito econômico e mundial. É necessário compreender que, apesar da população paratiense dominar um conhecimento pessoal sobre o turismo, não há uma percepção clara sobre a razão pela qual Paraty é tão importante no contexto internacional.
Primeiramente, os moradores do município, em geral, tem apenas uma ideia, vaga, do que atrai os turistas, mas não tem acesso à informação suficiente para passar uma impressão certeira sobre o assunto. Mero, barqueiro de 63 anos, vive atualmente em Paraty, onde nasceu, e reconhece os principais fatores que geram o turismo na cidade. Ao entrevistar Mero, o mesmo conta que ao passear com um francês por Paraty descobre que a cidade que aparece na primeira página de uma revista europeia é a mesma.


Foi perguntado ao paratiense qual seria a razão de Paraty ser a cidade representada na capa e Mero diz que é “...porque a divulgação é muito grande, cidade histórica, isso e aquilo, tem a montanha, o mar, tudo junto, então fica tranquilo…”. É possível reconhecer que a descrição do barqueiro sobre o porquê da importância internacional do município não é uma visão detalhada e aprofundada, o que geralmente se espera do próprio morador da cidade.
Além disso, Mero conta um pouco sobre a FLIP, Festa Literária Internacional de Paraty, que representa uma parcela considerável do turismo da região. Ao ser observada pelos olhos do senso comum, poderíamos concluir que a FLIP é benéfica a todos os moradores da cidade, mas Mero, como barqueiro e morador de Paraty há décadas, apresenta outro posicionamento. Primeiramente, o barqueiro dá o exemplo de algum turista qualquer, que vem com o objetivo de assistir ao festival. Explica que, como o motivo principal de sua vinda ao município é assistir à palestras, compra sua visitação bem antes de viajar, o que cria um agenda já estipulada, com horários de palestras, pousadas e restaurantes, por exemplo. Mero conta que o setor do turismo que acaba não lucrando tanto quanto os outros é o de passeios de barco, visto que o turista viaja apenas para ver a FLIP, com programação feita. Não haveria tempo, dentro de toda essa programação, para passear de barco, por exemplo. O passeio de barco perde espaço, uma vez que não é mais a atração principal, o que interfere na economia individual de cada barqueiro. O foco principal deste exemplo é o de que Mero nos explica detalhadamente sobre turismo em um âmbito pessoal, e não em um econômico mundial. A história relatada pelo paratiense demonstra um conhecimento aprofundado conquistado a partir de uma grande necessidade individual de entender mais sobre os impactos negativos que atingem sua vida pessoal.
Em conclusão, cada morador de Paraty entende muito bem sobre os impactos e fortes influências de sua renda individual, mas poucos paratienses entendem com certo nível de profundidade o impacto do turismo de Paraty na economia do Brasil, e até no mundo. É de grande importância ressaltar que essa falta de acesso à informação não é consequência principal da ausência de interesse da população, que se tivesse oportunidade, iria a aproveitar muito bem, visando um enriquecimento muito grande de sua compreensão sobre a cidade em um âmbito mundial.
